COR Rebaixado!
A demissão de Alexandre Cardeman, chefe executivo do Centro de Operações da Prefeitura do Rio – COR – foi covarde. Além de se tratar de um servidor de excelência, tendo sido um dos responsáveis pela construção daquele equipamento, era ele a única autoridade que estava presente de plantão no COR, quando as chuvas alagaram parte do Rio, na semana passada. Agora tentam atribuir a ele toda a inoperância da administração do Bispo no episódio.
Sua permanência começou a ficar sob risco, logo no início do ano quando o Bispo tira o COR da Secretaria de Conservação e o subordina a Ordem Pública. Sua mudança de status e de objetivos é um dos maiores erros estratégicos do Bispo-Prefeito.
Primeiro, porque é um equipamento que salva vidas, testado por 6 anos em tragédias, crises e eventos internacionais e transtornos do cotidiano da Cidade. É sempre bom lembrar que o COR nasce das chuvas de abril de 2010, quando tivemos 48 vidas perdidas. Seus modelos preditivos, protocolos de prevenção, de alerta e de resposta imediata em momentos de crise são fruto de muito estudo, tecnologia e experiência prática. E mais do que isso, são resultado de muitas noites em claro de inúmeros gestores, servidores e técnicos de apoio.
Segundo, porque estão acabando com o equipamento público de cidades mais moderno, premiado e copiado no Brasil e no mundo. Como uma inteligência instalada (equipamentos, programas) e uma outra armazenada (a memória, os protocolos de ação em tragédias e eventos diversos). Destroem também com isso parcerias em projetos e compartilhamento de informações e conhecimento com a NASA, WAZE, Moovit, Twitter, IBM e tantos outros centros de fronteira em alta tecnologia. Em 2013, eu fui pessoalmente em Barcelona, receber o prêmio de cidade mais inteligente do Planeta, no maior evento mundial de smart cities. Eram três projetos: COR, 1746 e Porto Maravilha.
Terceiro, colocar o COR como um instrumento de segurança e ordem pública é demagógico e pouco efetivo. A capacidade do Centro de Operação é imensa e diversa. O CICC – o Centro de Informação, Comando e Controle – do Governo do Estado do Rio de Janeiro, esse sim, exclusivo para a segurança pública, fica a poucos metros do COR. Estão rebaixando o COR a um CFTV de Condomínio.
Quarto, se no Centro é possível monitorar a Cidade através de 80 telas, 24 horas por dia, 7 dias por semana, também deve estar aberto para ser monitorado pela imprensa, com assento permanente na sala de controle, e pela internet, através de sua página e suas redes sociais.
Mas além da mudança de status do COR, sua nova atuação esbarrará em dois problemas que estão na origem da visão do Bispo-Prefeito em relação à Cidade. Crivella já é, e continuará ainda mais permissivo com a desordem pública. Seja por estar escravo de sua marca demagógica – cuidar das pessoas –, seja pela desculpa da crise econômica e do desemprego, que não dissipará tão cedo (explicarei mais sobre o populismo do Crivella em um outro post).
Na outra ponta está a sua guerra contra os meios de comunicação, principalmente, o Sistema Globo, que passou a ser sua obsessão prejudicá-la, em benefício da Rede Record do seu tio. Um dos exemplos, a Secretaria de Conservação, depois do massacre que sofreu o fraco secretário nos três jornais locais no dia das enchentes, está proibido de dar entrevistas para a eles. Outra medida, foi a redução de acesso da Rede Globo às câmeras e imagens que chegam ao COR.
Coerente com sua visão míope, quem assume agora o Centro de Operações é um policial, assessorado diretamente por um Guarda Municipal.
Enfim, a “city” pode ser “smart”, mas se a “leadership” é “dumb” de nada adianta. Nenhum plano de resiliência resiste a gente burra.