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Populismo de Crivella

(Opinião – O Globo) Pedro Paulo

 Nada de políticas estruturantes e muita política social de compensação

 Desde a redemocratização do país, o populismo tem alcançado mais sucesso nas pretensões dos governadores do Estado do Rio do que nas dos prefeitos da capital. Brizola, diferentemente de alguns dos seus sucessores, implantou um governo popular, com uma bandeira clara e correta: a educação em tempo integral. Para muitos, sua leniência com a desordem o caracterizou como populista. Mas o marco desta expressão teve seu ápice com o casal Garotinho, que, por quase duas legislaturas, ocupou o Palácio Guanabara. Já o ciclo da prefeitura do Rio teve início com Saturnino Braga, que, mesmo oriundo do brizolismo, não tinha o populismo no sangue e ficou identificado com a falência da cidade. Seguiram-se então Marcello Alencar, Cesar Maia (egresso do brizolismo), Conde, Cesar Maia (duas vezes) e Eduardo Paes (duas vezes).

Até a eleição de Crivella, 24 anos se passaram sem que o populismo tivesse assento no Palácio da Cidade. Na verdade, desde a redemocratização do país, esta é a primeira vez que a cidade é conduzida por uma lógica populista clássica, em estado bruto. Pelo timbre religioso, Crivella reflete um populismo à la Garotinho, com agravantes, pois seus valores conservadores são incompatíveis com as características libertárias da cidade. Em seis meses de governo, Crivella expõe a cara do seu mandato confrontando-se com a cultura das festas pagãs da cidade e condescendendo com a desordem pública. Tudo indica que este será o norte da sua administração: nada de políticas estruturantes e muita política social compensatória.

O prefeito ainda vive o dilema do slogan que marcou sua última eleição: cuidar das pessoas. De um lado a mensagem, de outro a realidade. Cuidar da cidade então passou a ser algo dissociado das pessoas e hierarquicamente inferior. É eficiente a mensagem, que supõe sensibilidade, não há dúvida, principalmente depois do ciclo mais expressivo de obras estruturantes que o Rio experimentou em toda sua história. A frase é repetida como um mantra no governo e peças publicitárias (o que é algo claramente ilegal e minha ação popular o tirou do ar), mas a tão propagada prioridade em saúde e educação, por ora, é apenas discurso.

Relegar o cuidar da cidade para segundo e terceiro planos é não compreender seu papel como líder, síndico ou gestor moderno de uma megacidade como o Rio. Mas o mais grave é não enxergar que este é um dos principais caminhos para cuidar da sua população. Talvez um dos exemplos mais latentes seja a ordem pública. A desordem do espaço urbano, justificada pela falsa preocupação com o desemprego, é um tiro no pé, pois alimenta a criminalidade, prejudica negócios e empregos formais e destrói a imagem da nossa cidade vocacionada para o turismo.

A liberação indiscriminada de vans, a partir da Zona Oeste e que já saiu do controle nas demais regiões, a licenciosidade dos espaços públicos com a proibição da Guarda Municipal nas ações de ordenamento e permissividade com a invasão de terras são apenas exemplos que custarão um preço altíssimo para a cidade e para as pessoas. Esperem para ver.

Pedro Paulo é deputado federal (PMDB-RJ)

O Populismo de Crivella – Jornal O Globo – Opinião – página 15 – dia 19/07/2017

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